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  • Foto do escritorSandra Pedro

O Silêncio por detrás do Quiet Firing e Quiet Quitting

Muitas vezes somos levados por ondas, em especial nas redes sociais. Depois da Grande Demissão, a demissão silenciosa e o despedimento silencioso tornaram-se uma tendência. Contudo, é preciso perceber que se trata de dinâmicas comportamentais em nada novas.


Trata-se, isso sim, de uma consequência de ambientes corporativos tóxicos, que têm agravado a saúde mental de colaboradores, têm aumentado os níveis de desinteresse pelo trabalho e que, inclusivamente deu origem ao movimento da Grande Demissão. Esta não é uma dinâmica apenas do mercado laboral português. É global.


Ao contrário de outros países, como os Estados Unidos e até o Brasil, Portugal não dispõe de estatísticas referentes ao número de colaboradores que apresentam demissão. Os números referentes ao trabalho dizem respeito a desempregados e a colaboradores que mudaram de emprego. Assim, ficamos sem perceber se este movimento atingiu realmente o nosso país.


O certo é que muitos empregadores revelam preocupação face à escassez de profissionais em determinadas áreas técnicas e a determinados comportamentos por parte das gerações mais jovens, que aparecem “apenas a reivindicar direitos”.


Sugiro, agora, um exercício de reflexão. Porque será que existe escassez de mão de mão? O que leva os colaboradores a demonstrar cada vez mais desinteresse pelo trabalho que desempenham? Por que será que as gerações que estão a entrar no mercado de trabalho apresentam novos argumentos?


A pandemia apenas trouxe visibilidade para um sentimento generalizado no mundo corporativo - desinteresse -, além de exaustão mental e física. Os ambientes tóxicos vividos nas empresas, provocados pela hipercompetitividade, alta pressão, sobrecarga de tarefas, falta de reconhecimento têm conduzido a um aumento vertiginoso de casos de burnout, depressão grave e até suicídio. Uma situação insustentável para os colaboradores e com custos elevadíssimos para as empresas e a sociedade em geral, visto que há uma degradação nas relações humanas, com todas as consequências agregadas a essa degradação, e a uma sobrecarga no sistema de saúde.

A desmotivação e o desinteresse provocados pelos ambientes tóxicos entre elementos da mesma equipa e com chefias, conduzem muitos dos colaboradores a realizar apenas as tarefas que estão definidas no seu contrato e a cumprir apenas os horários estipulados.


O despedimento silencioso tem sido apontado como uma reação à demissão silenciosa. Uma atitude que apenas prejudica a empresa e demonstra falta de maturidade de quem a pratica. No entanto, o quiet firing trata-se apenas de outro nome para assédio moral nas empresas sem a carga pesada e negativa do conceito.


Gestores e líderes que, conscientemente, tomam ações negligentes, como esvaziar o colaborador de funções, isolá-lo dos restantes colegas de trabalho, exigir resultados pouco exequíveis, não dar um feedback do seu desempenho, afastar o colaborador de promoções e não aumentar seu salário para forçar a sua demissão são comportamentos reveladores de assédio moral - mobbying. Prejudicam não só o colaborador como toda a empresa que descredibiliza, desmotiva e deterioriza a saúde mental de profissionais que, em outro tipo de ambiente, geram valor e resultados à empresa. Desta forma, aumentam - e muito - custos que poderiam ser evitados.


Claro que os colaboradores que apenas fazem aquilo que lhes compete também não ficam bem neste quadro comportamental. Ficam numa zona de conforto, sem mostrarem as suas verdadeiras competências e sem hipótese de desenvolvimento profissional. Os profissionais confiantes nas suas valências e competências não se acomodam e procuram melhores oportunidades profissionais, que lhes permitam concretizar quer as suas ambições profissionais, quer pessoais. Mesmo que isso signifique emigrar.


Este é um cenário em que ninguém ganha. Todos perdem. Gestores e líderes devem perceber que os Colaboradores colaboram com eles no crescimento do seu negócio. Não são meros “custos com pernas”. São, isso sim, ativos da empresa. E a empresa nada mais é do que uma ideia abstrata, materializada pelos produtos e serviços executados pelos Colaboradores. Sem eles a empresa não existe. As Pessoas são a Empresa.


Os colaboradores também devem perceber que eles são os únicos responsáveis pelo seu percurso profissional. Se estão numa empresa, na qual não se identificam, cujo ambiente de trabalho é negativo, não existe reconhecimento pelo trabalho e dedicação e os relacionamentos são tóxicos, podem escolher entre ficar ou planear a sua saída. E cada vez mais escolhem a segunda. Atenção, não escolher agir também é uma escolha.


Não é por acaso que muitas empresas trabalham o seu Employer Branding, ou seja, marca de empregador, de forma a se tornarem empresas que despertam o desejo dos profissionais em trabalhar com elas. Só que devemos ter atenção entre o SER e o FAZER. Requere-se autenticidade e transparência, caso contrário, a reputação pode sair prejudicada e o brand value cair. Uma reputação interna requer uma Cultura Organizacional clara, que valorize relações positivas e saudáveis, condições de trabalho, equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e o desenvolvimento pessoal e profissional.


Tudo isto tem de ser autêntico, algo impregnado no ADN da empresa. Caso contrário, caem no que denomino de Employer Branding Washing. E, hoje em dia, fingir Ser sai caro. Num mercado cada vez mais competitivo - a conquista de profissionais faz-se a nível global - os profissionais sabem onde querem e não querem estar. Quando procuram por novas oportunidades, a Internet é a base de recolha de informação sobre as empresas. Plataformas onde encontram revisões e opiniões sobre as empresas, desde o processo de recrutamento até ao relacionamento com gestores, líderes e colegas, dos salários aos benefícios. Redes sociais onde encontram testemunhos, desabafos e elogios. Já para não falar do círculo de amigos e familiares.


E o que procuram estes profissionais ambiciosos, confiantes das suas competências e capacidades? Relações positivas e saudáveis, um propósito maior do que o lucro pelo lucro, salários e benefícios justos, desenvolvimento profissional e pessoal, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, uma cultura acolhedora, empática, humana, autentica, transparente e cooperação entre todos.


O trabalho deixou de ser encarado como algo necessário para a sobrevivência. Passou a ser um meio para atingir a realização pessoal e profissional. Por isso, cada vez mais profissionais procuram empresas que lhe proporcionem autonomia e flexibilidade, pois são focados em resultados, não no modus operandi. O local de trabalho e o horário pouco importam. E sim da experiência de vida que o trabalho pode proporcionar.


Não é por acaso que a nova geração de empresários implementa nas suas empresas uma equação simples para criar um ambiente de trabalho motivador e criativo, pois estão conscientes do seu impacto no crescimento do seu negócio: pessoas felizes = melhores e maiores resultados.


O autor, palestrante e futurista Jacob Morgan afirma que “num mundo onde o dinheiro não é mais o principal fator de motivação dos colaboradores, focar na experiência do colaborador é a vantagem competitiva mais promissora que as organizações podem criar.”


E como criar essa experiência? Ter uma cultura organizacional empática e transparente, com o envolvimento de todos os stakeholders num propósito comum. Colaboradores colaboram. São ativos. São Pessoas. E querem ser reconhecidas como tal. Respeitadas. Reconhecidas.


Estas mudanças na consciência coletiva devem ser vistas como oportunidades para tornar os negócios mais verdadeiros, sustentáveis e impulsionadores de um futuro mais colaborativo, saudável e próspero a nível financeiro para todos. As empresas que não se adaptam às mudanças profundas que o mercado e a sociedade imprimem de tempos a tempos acabam por sucumbir. A Kodak e a Nokia são dois exemplos recentes. Quem não se adapta acaba extinto. É uma lei universal.


As mudanças batem-nos à porta. Estão dispostos a abrir a porta a essas mudanças? Quão dispostos estão a fazer diferente para deixar uma mentalidade que deixou de ter lugar para se sentar?



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