Sandra Pedro
A Nova Realidade do Trabalho: Employee Experience
Uma das perguntas que mais ouço nas minhas conversas com gestores e líderes empresariais é "Porque é que os meus colaboradores não querem regressar ao escritório?". Esta é uma pergunta que esconde preocupações mais profundas. Algo que ensino nas minhas mentorias e indico nas minhas assessorias é a forma como devemos formular perguntas, pois a forma como o fazemos altera a nossa perspetiva e ficamos mais abertos para encontrar novas possibilidades para os desafios com que nos deparamos.
Neste caso devemos questionar: "Impor o regresso ao escritório vai contribuir para a empresa? Irei perder colaboradores se impor a presença física? O que posso fazer para que a presença física seja a contribuição que os colaboradores escolhes?" Estas questões podem parecer, no início, algo "estranhas". Garanto-vos que têm nada de estranho e que resultam.
É compreensível que estas incertezas nos preocupem. Estamos a enfrentar um território inexplorado na liderança, sem precedentes para orientar as nossas decisões. Este é um período de mudanças e de crescente complexidade nos negócios, onde estão a ser estabelecidas novas regras na liderança, na gestão de empresas e pessoas.
Assumir a responsabilidade por decisões que envolvem a obrigatoriedade da presença no escritório, mesmo quando não é estritamente necessário, é crucial. É inegociável reconhecer que a vontade dos colaboradores pode não coincidir totalmente com os interesses da empresa. Estabelecer políticas rígidas terá inevitavelmente consequências, com alguns a optar por sair devido a essas escolhas. É um preço que devemos estar dispostos a assumir.
Num mundo onde a flexibilidade é cada vez mais valorizada, devemos questionar: "Dada a natureza das nossas atividades, é realmente essencial estar no escritório?" E ao impor esta norma, precisamos avaliar se os gestores e líderes da organização também a cumprem. Quando estamos no escritório, somos visíveis? Damos o exemplo?
Claro que cada situação é única. E devemos ter em conta três pontos que devemos aplicar para vermos resultados efetivos nas equipas: definir a nossa política de presença no escritório, estabelecer exceções (e aplicá-las na prática) e personalizar abordagens de acordo com as necessidades das nossas equipas.
Em vez de impor regras, devemos apresentar razões convincentes para que os colaboradores escolham o escritório. Essas razões devem estar ancoradas no propósito, na marca, na filosofia corporativa, na cultura organizacional e na experiência do colaborador da organização. Todas com um grande peso em períodos de mudança.
A criação de relações colaborarias, transparentes e éticas, juntamente com um ambiente de trabalho motivador que impulsiona o desenvolvimento pessoal e profissional, inclusivo e psicologicamente seguro, são fatores cruciais para incentivar a presença no escritório.
Neste novo contexto, o "employer experience" e o "employer branding" desempenham papéis vitais. O "employer experience" molda a forma como os colaboradores se sentem ao trabalhar connosco, enquanto o "employer branding" promove a organização como um lugar onde os colaboradores escolhem estar presentes e se sentem parte integrante.
Outra estratégia eficaz é permitir que as equipas assumam a responsabilidade de quando estarão no escritório. Isso assegura tempo de qualidade juntos e proporciona algum controlo sobre o horário de trabalho e tarefas.
Neste novo cenário, a liderança e a comunicação conscientes tornam-se competências cruciais. Liderar com empatia, compreensão e transparência é imperativo. A capacidade de comunicar de forma significativa e autêntica é inestimável.
De acordo com a Gallup, mais da metade dos colaboradores está a adotar esquemas de trabalho híbridos. Isso reflete a necessidade de adaptar as nossas políticas e abordagens. Mais de 50% dos colaboradores acreditam que o escritório é o melhor lugar para o trabalho colaborativo. Isso acontece porque em organizações que valorizam profundamente o relacionamento humano, os colaboradores optam por estar fisicamente presentes. Ou seja, conseguimos criar ambientes de trabalho que inspiram a presença no escritório. Não precisamos impor.
Nesse cenário, a liderança tornou-se mais complexa e desafiadora. No entanto, ao assumir a responsabilidade, personalizar abordagens e fornecer razões em vez de regras, estaremos no caminho certo para criar um ambiente de trabalho que atende a todos.
Mantenham-se inspirados e continuem a liderar com compreensão, fundamentada na Inteligência Positiva e na Inteligência Emocional. Lembrem-se de que a filosofia corporativa e o "employer experience" da organização estão refletidos em cada decisão que tomamos.